quarta-feira, 16 de março de 2011

Pagante Que Sou

Hoje resolvi brincar com as palavras. Ou melhor, as palavras resolveram brincar comigo. Gostei muito pois estava morrendo de saudades delas. Foi até engraçado como aconteceu: cheguei da faculdade, joguei a mochila pra um lado, sentei em frente ao computador, acessei meu twitter e comecei a digitar. Quando dei por mim já havia escrito 557 caracteres, número esse que o twitter, obviamente, não suporta. Na hora me veio à cabeça que tenho um blog. Isso mesmo, eu tenho um blog! O deixei de lado a algum tempo mas ele continua lá, pronto para me receber.
E aqui estou, escrevendo ao invés de trancrever logo de uma vez, o bendito tweet que me fez lembrar do meu querido blog. Espero que as palavras continuem a brincar comigo como antes brincavam, e espero que nesses momento eu me lembre que tenho onde guardá-las. Salve meu depósito, meu armazém, meu Warehouse!


Tom Bombadil, personagem de J. R. R. Tolkien.
 
Sou livre, sou brisa, sou vento. Sopro do topo daquela colina até o paralelepípedo amarelo-maroto da última rua da cidade. Pago pra entrar, nunca pra sair. Sou pagante, errante e um tanto pagão. Quero o mundo agora e o que quero, quero pra já. Pois, pagante que sou, não espero por qualquer pagão errante, mesmo que pagante. Mesmo que sopre do topo da colina até o paralelepípedo amarelo-maroto da última rua da cidade. Mesmo que seja livre, brisa ou vento.

A não ser que queira o mundo e queira agora. Pois, pagante que sou, pago pra entrar, nunca pra sair.

PS: Quando terminei de escrever o texto, imediatamente me veio à cabeça, ninguém menos que o venerável Tom Bombadil (vale a pena conhecê-lo). Não me pergunte o porquê, apenas veio. Cantando, dançando e saltando as colinas como a brisa que sopra... Ah! Taí o porquê! Entenderam?

Abraços!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Indo Nessa!

Boas Novas! A mudança iminente que eu tanto esperava finalmente chegou. Passei no vestibular, vou estudar fora, domingo levo parte de minhas tralhas e segunda começam as aulas. Até tudo entrar nos eixos vai levar um tempo, é bem provável que eu fique longe daqui enquanto isso. Não descarto também a possibilidade de que não haja mais tempo para eu me dedicar ao blog. Mas de uma forma ou de outra ele continuará como está, e sempre que puder dou uma passada por aqui. Vou fazer Ciências Biológicas (Biologia) na estadual de São José Do Rio Preto, não muito longe da minha cidade mas ainda assim, não é minha casa. Finalmente vou dar o fora daqui, já não era sem tempo!

Não vejo a hora de entrar de cabeça no novo.


Então, tô indo nessa. Abraços e até a próxima!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Abordagem Tardia

Estaciona na diagonal e os quatro descem. A garrafa de cerveja em cima do carro e os copos nas mãos. O de xadrez termina um cigarro e imediatamente retira outro do maço já no fim, acendendo-o com a bituca do anterior pois o isqueiro deixou, a pouco, de funcionar. Oferece ao de boné e ele recusa. Dois deles, o de boné e o de pólo, ficam encostados no carro. Enquanto os outros dois, o de xadrez e o de branco, se sentam na sarjeta. Um tópico chega ao fim e um momento de silêncio se inicia. Surge o desconforto, proveniente das palavras ainda não ditas e do momento oportuno recém criado. O de xadrez aguarda o que sabe estar por vir, de braços cruzados e olhos mirando o chão. O de branco começa timidamente a tocar no assunto. O de xadrez se agarra com força à deixa, e uma torrente de explicações e pedidos de desculpas se inicia. O de boné e o de pólo saem andando, a fim de dar aos outros dois um instante reservado. Eles então se levantam, o de xadrez toma o lugar dos outros se encostando no carro e o de branco fica em pé na frente. A conversa se estende por um longo tempo e tem como ponto alto, o momento em que o de branco diz ter se decepcionado, acima de tudo, com a falta de coragem do de xadrez em abordar o assunto. Instantes depois, o de boné e o de pólo voltam e passam a participar. Um detalhe anteriormente desconhecido faz com que o quadro se torne ainda mais crítico. Mais pedidos de desculpas, alguns comentários e esclarecimentos e o assunto chega ao fim. 


A abordagem foi tardia mas finalmente aconteceu. E isso não significa que ambos saíram satisfeitos com o desfecho da conversa. Também não significa que o de xadrez obteve, por fim, o perdão do amigo.

PS: Sim, este é, aparentemente, o fim da estória cujo relato teve início neste post.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Joga Fora No Lixo (Ou O Guarda Tralhas)

Meu dia se resumiu a correria e desespero. Correria para arrumar a papelada toda para a matrícula da faculdade e desespero por não conseguir encontrar o certificado de reservista. Das 24 horas do meu dia, 8 passo no trabalho e 16 passo em casa - ignorando o tempo de trajeto casa-trabalho a fim de simplificar as partes menos importantes da história -. Das 16 horas em casa, 8 passo dormindo e em média 7h55 passo no fim de um corredor, um beco sem saída do qual eu me apropriei e batizei Dead End (nome mais cabível que esse, impossível). Lá, ou melhor, aqui - pois é óbvio que me encontro no Dead End neste momento - coloquei meu computador, a mesa do computador, a cadeira com rodinhas, um ventilador, um sofá, um armário de parede, minha cortiça e uma prateleira de madeira. Praticamente tudo que é meu está aqui, disposto do jeito que eu gosto; bagunçado e ao meu alcance. Na distancia de pouco mais do que um braço estendido, nada que a cadeira com rodinhas não resolva. Só o que falta para que eu crie raízes aqui e não deixe este lugar nunca mais é um geladeira. Ainda bem que aqui no Dead End não tem uma geladeira.

Jo-Ken-Pokémon
Cheguei do trabalho já ciente que a carteira de reservista estava desaparecida (minha mãe me ligou avisando que não a tinha encontrado) e parti para a busca assim que pus os pés em casa. Ela ficava em um dos compartimentos da prateleira, embaixo da caixinha de papelão de onde veio meu celular, metade embaixo e metade para fora, para que estivesse sempre visível. Dividindo o compartimento com um discman velho, a caixinha onde eu guardo dinheiro, algumas pilhas recarregáveis, alguns cd's, um copo com dados e meus cards do jo-ken-pokémon (coleção completa, a unica que consegui completar), a caixa do meu mp3, algumas notas fiscais, alguns carnês quitados, o recarregador das pilhas e duas argolas. Um bagunça não? Mas viu só como mesmo em meio a bagunça sei tudo que está ali? Minha prateleira é toda bagunçada, mas tenho conhecimento de tudo que há nela e de onde se encontra cada coisa. Minha "bagunça organizada" nunca foi um problema. Até, é claro, o sumiço da minha reservista.

A unica solução era, obviamente, por tudo abaixo e procurar minuciosamente. E foi o que fiz. Tudo foi ao chão e passou individualmente por minhas mãos antes de retomar seu lugar na prateleira (agora bem mais organizada, e é capaz que assim eu perca mais coisas). Sou um guarda-tralha assumido, tenho uma dificuldade imensa de jogar as coisas fora. Tenho a impressão de que tudo será útil um dia e tento me prevenir de futuramente me arrepender de ter jogado algo fora, o que obviamente, até hoje nunca aconteceu.

Por isso, na prateleira encontrei uma tonelada de coisas, um conteúdo um tanto diversificado: revistas do Pokémon (devia ter uns 12 anos quando comprava essas revistas), cadernos do ensino fundamental, livros do ensino fundamental, cadernos de desenho, milhões de folhetos de temas diversos, os pseudo-quadrinhos que eu costumava fazer na época que gostava de desenhar, o livro e as fichas do RPG cuja história nunca terminou, xerox de livros de literatura pedidos pelas professoras do ensino fundamental e médio; Iracema, Capitães de Areia, Vidas Secas, Morrer de Amor, Meninos Sem Pátria, Vida de Droga, entre outros. A maioria nem cheguei a ler, as professoras nunca conseguiam me obrigar a ler quando não queria, o gosto pela leitura veio bem depois. 

Encontrei também livros didáticos do ensino médio, o tabuleiro do banco imobiliário, meus cadernos e xerox das matérias do técnico em Meio Ambiente, minha caixa de moedas antigas (tenho uma pequena coleção de moedas antigas de diversos países), uma câmera fotográfica quebrada, um mp3 e um mp4 quebrados, uma baqueta que ganhei em um show de uma banda cover do Matanza, meu microfone de computador, minha web cam, meu Game Boy Color (quase uma relíquia), um telefone velho, uma mochila que comprei numa conferência de meio ambiente, uns pôsteres muito antigos do Slipknot, Nightwish e System of a Down, os quais devo ter comprado quando tinha uns 14 anos, estes foram os substitutos das revistas do Pokémon. 

E o mais engraçado foi encontrar uma caixa de papelão que continha: uma bola de golfe, uma corrente de prata, umas pulseiras de neon dessas que dão em festas, uma camiseta de uniforme do ensino fundamental toda assinada (que ridículo, eu fazia isso), um dvd de hentai lésbico e a Playboy da Luize Altenhofen (eu pirava de um jeito louco nas tatuagens dessa mulher).

UFA! Terminou? Não, não terminou. A parte engraçada foi encontrar a caixa com conteúdo adulto, mas a parte constrangedora foi encontrar um monte de folhas destacas, onde estavam escritos uma infinidade de textos e algumas "músicas", todos de minha autoria. É normal, depois que a gente cresce, achar tudo que fazíamos no mínimo ridículo. Mas mesmo assim, é normal, mas é ridículo! XD Eu não aguentava nem terminar de ler a maioria dos textos. E as "músicas", pelo amor de deus, o que era aquilo!? Sinceramente, que bom que a gente evolui, que bom que a gente muda muito com o passar do tempo. 

Acabou que não encontrei a reservista, e tudo que posso fazer é ir amanhã na junta militar ver o que pode ser feito. Pois preciso de um documento que comprove que estou em dia com o serviço militar, para fazer a matrícula. E até consegui jogar bastante coisa fora, todo os panfletos, alguns xerox do técnico, poucas coisas quebradas e, sem hesitar, todos aqueles textos e "músicas" ridículos que escrevi quando mais novo. A prateleira agora aparenta estar bem mais leve, mas não tão leve quanto minha consciência está, em saber que aquela baboseira toda foi pro lixo.


Evolution rules! Garda-tralhas sucks...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Formicídio

Noite passada teve assassinato em massa. Hoje de manhã, assim que cheguei ao trabalho, fui ao banheiro lavar o rosto e me deparei com dezenas de corpos espalhados pela parede. Empilhados, encolhidos e mutilados em diversos pontos da extensão que percorre o azulejo cinza, responsável por demarcar o meio da parede. Me pergunto até agora quem foi o assassino, quem foi o desalmado portador do inseticida letal. Quem violou a paz e a harmonia organizada da sociedade de formigas do banheiro do segundo andar da empresa. É provável que eu nunca saiba, pois, obviamente, um "formicídio" nunca será digno de investigações conduzidas por detetives, peritos e forenses. Os corpos não serão reconhecidos pelas famílias e os indigentes não serão nem ao menos enterrados como tais. Os minúsculos corpos jazerão exatamente no mesmo lugar onde suas vidas lhes foram arrancadas. Até que a senhora responsável pela limpeza lave o banheiro e apague das paredes todos os indícios e vítimas do cruel assassinato em massa da noite de terça-feira.

Sei que é meio difícil de ver, pois as fotos são de celular. Mas todos esses pontinhos são formigas mortas.

Aquilo que não vemos, ouvimos ou sentimos o cheiro, não nos atinge. Formigas não gritam de dor e, quando morrem, não ficam estateladas no chão abatidas e ensanguentadas. Assim como seu estágio de putrefação post mortem, não exala nenhum aroma fétido. As formigas vão continuar perecendo a sua volta e sua morte sempre será ignorada. É natural. Assim como é natural o fato de que haverá ocasiões em que cães, cavalos e elefantes morrerão em seu entorno e, essas sim, não passarão despercebidas. Os berros de agonia, o sangue esvaindo-se e o fedor da podridão, serão quase insuportaveis, uma afronta a seus sentidos. 

Ps': É claro, grande parte disso tudo é sentido figurado. O gostoso é a interpretação individual.
Ps": Mas o formicídio foi real, eu estive andando entre os cadáveres.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Perdoar, Perdoar-se e Pedir Perdão.

A culpa é, definitivamente, o sentimento que obtém maior êxito em me tirar o sono. Sempre tive orgulho em dizer que sou "bom de cama" (trocadilho infame), que geralmente não tenho dificuldade alguma para dormir e que, as preocupações usuais do dia-a-dia, nunca foram suficientes para impedir que minha cama e meu travesseiro produzissem seu efeito soporífero sobre mim. Porém, a culpa nunca foi encarada por mim como usual, talvez devesse, mas não é, nunca foi. E, sendo assim, ela tem um poder enorme de impedir que eu pregue os olhos.

Nunca tive facilidade em perdoar erros meus, principalmente quando esses erros envolvem terceiros. Terceiros feridos, magoados ou traídos. Ao passo que perdoar os outros nunca foi um problema pra mim. Talvez isso seja fruto da empatia que carrego para com os outros, que faz com que eu tenha sempre em mente que todos são passivos a cometer enganos e erros. Pois somos todos igualmente falhos, estamos igualmente em evolução constante e na maioria das vezes igualmente equivocados.

Pode parecer engraçado mas o fato é que; essa empatia toda não vale de nada quando o culpado sou eu. Acho que, no fundo no fundo, acabo nunca realmente me perdoando (aqui você vai pensar que sou um babaca que se enrijece consigo mesmo só pra tentar parecer justo) e acho também que, isso se deve à imensa dificuldade que tenho em pedir perdão. Sempre penso mil vezes antes de falar e fazer, justamente para evitar posteriores pedidos de desculpas (e aqui você tem certeza que sou um babaca, mas não pelo motivo anterior, e sim por ser um cretino egoísta, covarde e orgulhoso demais). E quando falo em desculpas não me refiro à palavrinha mágica que cuspimos todas as vezes que pisamos no pé de alguém ou esbarramos sem querer, derrubando no chão a pilha de livros que a pessoa carregava.

Me refiro àquelas situações em que cometemos uma mancada terrível, que faz com que nosso cérebro fique pesado como uma bigorna. Situações essas cruelmente pontuadas pela indiferença, quando a pessoa opta por não reagir, não reclamar, não gritar, não brigar, e nem xingar. Fazendo com que todas as vezes que colocamos os olhos na pessoa com a qual cometemos o erro, nossa consciência se contorça como um epiléptico, gritando desesperadamente:

"Caralho, eu não devia ter feito aquilo com você! Eu sinto muito, muito mesmo! Grita, xinga, por favor, fala alguma coisa! Sei que nada justifica o que fiz, to me sentindo um lixo! Mas preciso que você me perdoe senão a culpa vai me consumir de dentro pra fora até eu virar um montinho sujo e podre de cinzas!"

PS': Sim, este post é um pedido de desculpas.
PS": Não, essa mancada não foi umas daquelas que se comete com namorado(a), pai, mãe ou irmão(ã). Essa foi muito pior, a pior de todas. Essa foi daquelas que se comete com um amigo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Homem Invisível


Na soleira da porta, nenhuma sombra aparece. A porta abre, fecha e os sapatos ficam na entrada. Na cozinha, a comida fria volta ao fogo, esquenta e alimenta. A louça descansa no fundo da pia, enquanto a luz do corredor acende e as escadas rangem. A porta do banheiro abre, fecha e tranca. O chuveiro liga e derrama água por vinte minutos. A toalha envolve e seca. Pingos d'água formam um rastro que leva ao quarto. A toalha fica pendurada e o pijama sai da gaveta e veste. A luz apaga e o colchão afunda sob o peso cansado. A coberta cobre e a luz da lua entra pela janela. Iluminando o cômodo vazio, onde ninguém dorme.

O homem invisível acredita ser a reação das ações, o efeito das causas e a conseqüência dos atos alheios. As coisas acontecem a sua volta e ele não é responsável por nenhuma delas. Pelo contrário, as coisas é que são responsáveis pelo que ele é, pelo que ele se tornou e pelo que ele faz. Ou melhor, não faz. Pois são as coisas que fazem.